JARDIM DA CASA 3M
São Paulo, SP
Os jardins urbanos, especialmente na cidade de São Paulo, têm características muito semelhantes. São fechados por muros altos para proteção, vizinhos próximos dos quais se quer isolar, a rua que não se deseja ver de dentro para fora ou de fora para dentro. Raramente temos horizontes, poucas vezes conseguimos ver a lua ou o pôr do sol. Nossa cidade não nos acolhe e não é amigável, nos faz reféns em nossos cantos. Acredito que jardins semeiam um olhar mais sensível para as coisas da natureza. Se nos dedicarmos a observar, muito há de se aprender com o amadurecimento do jardim, inclusive que dependemos uns dos outros e da própria natureza e, se formos mais além, qual é o nosso lugar neste mundo. Mas muito há de ser feito pelo bem viver de todos os cidadãos. Jardins podem ajudar neste processo ou mesmo nos proporcionar momentos de consciência.
Este jardim de 400 m², numa casa projetada por Marcio Kogan, deve atender a estes requisitos e ser o lugar em que a família convive e se reencontra. Um grande terraço e a sala se voltam para este jardim, que também recebe a entrada social da casa, a piscina e os estares externos. Estas premissas, no entanto, não deveriam tirar dele a magia de ser descoberto aos poucos. Através desta vivência se conquista uma intimidade com o lugar. O jardim tem compromisso com o tempo, não com o espetáculo. O jardim não é um cenário.
Desta forma, da sala e do terraço não se vê a piscina, que desenhei dissimulada entre as plantas, na cor cinza da ardósia que reflete o céu. Ela não é oferecida todo o tempo. Vemos a copa da jabuticabeira e não o estar à sua sombra. As camadas de folhagens, como capins, neomaricas, calateas, philodendrons se sucedem em alturas diferentes dando passagem para os caminhos e estares e para um pequeno gramado, conferindo aconchego à piscina.
Continuamos o piso da casa em cacos de pedra lávica até o jardim fazendo o acesso principal, áreas de estar exteriores e deck da piscina. A entrada se faz por um caminho estreito pontuado por algumas Lagerstroemia indica que escondem a chegada ao amplo terraço e é visualmente protegida do jardim por um canteiro de samambaias (Blechnum brasiliense) brotando junto às rochas. Aqui não se trata de esconder algo, mas de não revelar todo o jardim num só olhar e ser encorajado a descobri-lo através da sua contínua fluidez entre cheios e vazios. A sensação de descoberta é instigante e nos atrai para o local. Os japoneses fazem isso como ninguém. Caminhar pelos seus jardins é uma lição, estimulando os nossos sentidos da forma mais delicada.
No pátio dos quartos, no andar superior, dois jasmins mangas de flores brancas e perfumadas espalham sua graça ao convívio mais íntimo da família.
As euphorbias no final do terraço emprestam seu grafismo à parede de cobogó.
O terreno propiciava duas possibilidades de acesso da rua para a casa. A escolha de um deles eliminou a entrada pela rua mais movimentada. Esta calçada no entanto recebeu quatro ipês roxos que com o tempo vão dar uma sombra gostosa e alegre floração à esta quadra que perdeu praticamente todas as suas árvores para dar lugar às entradas de automóveis, numa gentileza aos pedestres que por ali caminham.