JARDIM DA CASA DELTA
Guarujá, SP
texto Isabel Duprat
O propósito deste projeto de paisagismo foi viabilizar os desafios indicados pelo projeto de arquitetura. Não raras vezes nos deparamos com este objetivo.
Esta casa projetada por Tiago Bernardes em um condomínio no litoral sul de São Paulo, ocuparia um terreno de 1.500 m² numa encosta bastante íngreme onde uma casa seria demolida. A nova casa ocuparia toda a área da anterior, 1.000 m², praticamente todo o terreno. Almejada pela arquitetura, a vista para o mar a partir das áreas de estar e piscina escalou este piso para uma cota 14 m acima do nível da rua, 1,5 m acima do último piso da casa antiga, uma diferença acentuada. O pátio de chegada à casa resultou em uma cota 7 m acima do nível da rua no ponto mais baixo. A pequena área entre a casa e a mata circundante existente deveria ser integrada aos futuros níveis de pisos, em situação de muita declividade. Todas estas condicionantes transformaram o projeto de paisagismo num intricado quebra-cabeça. Muitas vezes vivo a experiência desta situação e me pergunto se ser refém da vista descortinada ou se saber que ela está logo ali esperando por nós é o que nos liberta.
Este projeto de paisagismo é a solução de um percurso para ver a vista pautado por um complicado ajuste de níveis de acesso, relações com os níveis anteriores da antiga casa, inclinação da rampa de automóvel na medida do conforto, escadas com níveis difíceis a vencer, muros de contenção existentes a serem aproveitados e a serem criados. Muitos desenhos, muitas visitas a obra para ajustes feitos in loco, inúmeras adversidades, uma enorme energia foi dispendida. Todo este trabalho, no entanto, tornou-se invisível. Quanto mais integrado na arquitetura e ao entorno, mais invisível ele é. Se matemática e poesia têm alguma relação, este é o caso.
Para aliviar o impacto do desnível de 7 m do primeiro piso em relação à rua, desenhei três muros. Com estes muros criei solo necessário para o plantio de palmeiras, árvores e folhagens em camadas de vegetação, de forma a amenizar a relação da casa com a rua. Desenhei o piso de acesso com filetes de paralelepípedos e a mureta que circunda o pátio de chegada fiz com pedra moledo, fazendo as vezes de um banco guarda-corpo. A entrada da casa é feita de placas de granito cujo desenho dá continuidade à inevitável e íngreme escada.
O acesso externo para a piscina é feito através de uma escada, parte de pedra assentada no terreno e parte metálica no trecho onde se descola do chão. Próximo ao quarto do casal uma escada de madeira encontra o nível de um estar, junto à mata.
Se, de alguma forma, conseguimos trazer para a casa os melhores acessos possibilitando a desejada vista ao mar, a integração e recuperação da mata do entorno com importantes árvores nativas, então conseguimos ser bem-sucedidos.