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TORRE SANTANDER E JK IGUATEMI

São Paulo, SP

texto Isabel Duprat

O terreno objeto deste trabalho, que recebeu a Torre Santander e o JK Iguatemi, os dois blocos projetados pela Arquitectonica, está à margem direita do Rio Pinheiros em São Paulo.

Quando iniciei o projeto, já estava feita a laje do bloco A, futura Torre Santander, cujo acesso principal se voltava para a avenida Juscelino Kubitschek. A área externa prevista pelo projeto de arquitetura para este acesso, era um espaço destinado à circulação de automóveis envolvendo um trecho para plantio que em função do cálculo estrutural comportaria apenas uma forração, não seria um jardim.

Desenhei então um grande pátio de pedra, que receberia o edifício na sua proporção, cortado por uma linha d'água que fizesse as vezes de afluente do rio, com água limpa e transparente cujo nível fosse baixando lentamente como que entrando na terra. O automóvel e o pedestre circulariam pelo mesmo piso, apenas separados por balizadores. Escolhi para o pátio um granito apicoado, cuja cor cinza evitaria que a borracha dos carros causasse estragos. Já naquela época com um pouco de atenção poderíamos prever problemas de abastecimento de água e não seria razoável pensar em lavar o piso constantemente. A paginação das pedras com retângulos de diversos tamanhos provocava um suave efeito de sombra e luz movimentando nuances no chão sob o sol. A área plantada que envolve o pátio e, por conseguinte, parcialmente, o limite do terreno, seria uma menção à mata ciliar, mas com contrafortes de pedra assumindo a urbanidade do rio. A ideia não era pretender reproduzir a margem natural do rio, o que é impossível, sobretudo em um rio cujo leito foi retificado, mas remeter a uma paisagem natural incorporada. Uma boa forma de pensar este tema é mergulhar nos bem sucedidos exemplos de rios recuperados cortando cidades mundo afora e como passaram a fazer parte da vida destes lugares.

Na parte posterior do prédio, trazendo a forma linear do espelho d'água, dois grandes canteiros ortogonais foram pensados para expor toda a beleza esculpida dos paus-mulatos contidos por um banco de pedra branco com desenho orgânico, cujas formas serpenteantes se replicariam no projeto como um todo, trazendo o contraponto à formalidade da arquitetura.

Com o projeto em andamento, o banco Santander assumiu o bloco A e me foi pedido para atender o desejo do proprietário de ter oliveiras neste jardim, uma grande paixão sua como colecionador que era destas belas árvores. O melhor lugar que achei que poderia receber estas árvores exóticas seria o jardim dos paus-mulatos, que de alguma forma estava mais isolado da margem do rio. Propus, no lugar dos canteiros retangulares, uma pequena praça com formas orgânicas e as oliveiras plantadas em grupos aleatórios, e não como uma plantação linear. O desenho anterior tinha sido pensado para os paus-mulatos e sua estrutura esbelta, assim que criei um outro projeto para as oliveiras, mais arredondadas e mais baixas.

 

O outro bloco receberia o shopping center JK Iguatemi. Para o jardim, dividindo os dois blocos, foi natural continuar a ideia da mata ciliar, como um outro nicho remanescente. Neste trecho, a passagem de automóveis recebeu o mesmo granito usado no grande pátio, mas com uma paginação na sua escala, portanto, mais uniforme e reduzida.

A calçada frente à entrada do shopping que dá para a avenida Chedid Jafet, feita de piso pré-moldado em placas retangulares com diferença de cores em dois tons para facilitar a acessibilidade visual, recebeu dois grandes canteiros lado a lado de azaléas brancas, que tão bem florescem em São Paulo no fim do inverno, como ondas verdes e brancas separando e protegendo o pedestre do intenso movimento da avenida. As azaléas são pontuadas por grandes árvores, como as sapucaias que na sua brotação se cobrem de cor salmão e três imponentes jequitibás que introduzi ao projeto, inspirada pelo grande jequitibá que motivou o desvio da avenida Faria Lima, em um trecho próximo, quando foi traçada muitos anos atrás. São belas árvores brasileiras que se expõe sobre os planos brancos do edifício. Só estes três elementos, nada mais.

Fazer um projeto à beira do rio deveria ser uma homenagem ao rio, sem evitá-lo ou escondê-lo, porque é sujo, feio e revelador do nosso desmazelo. Mas sim trazê-lo para a vida da cidade encarando este sério e anacrônico problema de saneamento frente a frente.

Muitas vezes os conceitos que regem um projeto não são assimilados e alterações durante o processo de desenho vão sendo solicitadas em prejuízo da ideia inicial. Assim também pode ocorrer durante o processo de execução que, quer seja em sua qualidade, quer seja em sua fidelidade ao projeto, desfavorece a sua concretização. E assim as ideias vão perdendo o seu vigor. Isto não é incomum, o que não deve impedir os nossos sonhos e reflexões.

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Projeto 2008 - 2011

Área de projeto  15.000 m²

© Isabel Duprat

Arquitetura Paisagística |  Isabel Duprat Arquitetura Paisagística

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